As mortes causadas pela aids no Rio Grande do Sul seguem uma curva ascendente que preocupa pesquisadores e coloca em alerta gestores em saúde pública. Em 13 anos, o Estado registrou um acréscimo de 52% nos óbitos decorrentes do HIV. É muito, mas não é tudo. O dado inquieta ainda porque, no mesmo período, o Brasil experimentou uma diminuição de 24% das mortes pelo mesmo motivo.
Por que o Estado vai no caminho oposto ao que ocorre no país?
Não há uma explicação capaz de dar conta do fenômeno com a segurança e o rigor necessários. Para suprir a desinformação, será montado um comitê multidisciplinar, com psicólogos, professores universitários, médicos, sociedade civil e gestores da saúde.
Enquanto respostas são buscadas, a diretora do Departamento de Atenção à Saúde da Secretaria Estadual da Saúde, Sandra Sperotto, arrisca hipóteses. Uma delas é a notificação, que seria rigorosa no Rio Grande do Sul se comparada com os demais Estados, o que empurraria para cima as estatísticas envolvendo o contágio e a doença.
– Aqui, apenas 5% das mortes são por causas desconhecidas, mas, em alguns Estados, este número chega a 20% – diz Sandra, para quem os dados do Rio Grande do Sul refletem uma realidade mais fidedigna.
A segunda conjectura, porém, é bem menos otimista: os gaúchos poderiam estar reduzindo a prevenção.
– Com resultados positivos apresentados pelos antirretrovirais, é possível que exista uma banalização da epidemia, com as pessoas deixando de usar preservativo e compartilhando seringas – opina Sandra.
Sete cidades lideram lista de infectados
Dos 10 municípios brasileiros de população igual ou superior a 50 mil habitantes com maior incidência de portadores de HIV, sete são gaúchos. No país, Porto Alegre lidera o ranking dos infectados, com 111,5 casos para cada grupo de 100 mil pessoas.
Os outros seis são Canoas, São Leopoldo, Alvorada, Sapucaia do Sul, Viamão e Cruz Alta (confira lista no quadro à esquerda).Das 50 cidades com mais casos, 21 estão no Estado.
Professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o epidemiologista Jair Ferreira aponta dois pontos principais como causas a serem avaliadas. Ele destaca que o pico do consumo de drogas injetáveis no Rio Grande do Sul se deu por mais tempo do que em outros Estados, aumentando os riscos de contágio. A atividade sexual cada vez mais ativa na terceira idade, faixa etária ainda refratária ao uso de preservativos, é outra possibilidade a ser avaliadada.
Para o epidemiologista, um suposto afrouxamento nos hábitos preventivos, se de fato houve, provocaria resultados a longo prazo, o que não ocorre no Rio Grande do Sul, que apresenta taxas altas de óbito e contaminação desde meados dos anos 1990.
– Teríamos de saber se nos outros Estados as pessoas se cuidam mais, o que eu não acredito. Eu apostaria ainda no rigor que existe em toda a Região Sul na apuração da causa das mortes, aumentando a identificação dos casos de aids no Rio Grande do Sul – complementa o especialista.
Fonte: ZERO HORA (2010), também disponível em: http://www.aidshiv.com.br/
Por que o Estado vai no caminho oposto ao que ocorre no país?
Não há uma explicação capaz de dar conta do fenômeno com a segurança e o rigor necessários. Para suprir a desinformação, será montado um comitê multidisciplinar, com psicólogos, professores universitários, médicos, sociedade civil e gestores da saúde.
Enquanto respostas são buscadas, a diretora do Departamento de Atenção à Saúde da Secretaria Estadual da Saúde, Sandra Sperotto, arrisca hipóteses. Uma delas é a notificação, que seria rigorosa no Rio Grande do Sul se comparada com os demais Estados, o que empurraria para cima as estatísticas envolvendo o contágio e a doença.
– Aqui, apenas 5% das mortes são por causas desconhecidas, mas, em alguns Estados, este número chega a 20% – diz Sandra, para quem os dados do Rio Grande do Sul refletem uma realidade mais fidedigna.
A segunda conjectura, porém, é bem menos otimista: os gaúchos poderiam estar reduzindo a prevenção.
– Com resultados positivos apresentados pelos antirretrovirais, é possível que exista uma banalização da epidemia, com as pessoas deixando de usar preservativo e compartilhando seringas – opina Sandra.
PANORAMA NO BRASIL E NO RS |
Municípios com 50 mil habitantes ou mais e maior taxa (por 100 mil habitantes) de incidência |
- O pico das mortes causadas pela aids no Brasil aconteceu em 1995, quando 15.156 pessoas foram vitimadas pelo HIV. Após, o país registrou uma queda acentuada e, desde 2002, uma estabilização dos óbitos que não ultrapassam a casa dos 11 mil. Em 2008, por exemplo, foram 11.523. |
- No mesmo período, o Rio Grande do Sul registra uma curva ascendente nas mortes: foram 950 em 1995 e 1.445 em 2008, um aumento de 52%. |
- Antirretrovirais são medicamentos distribuídos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), que inibem a reprodução do HIV no sangue, permitindo ao paciente viver e com qualidade. A associação desses medicamentos com fins terapêuticos, é dado o nome de terapia antirretroviral, também chamada de coquetel – 19 medicamentos atuam de forma complementar. |
A NOTIFICAÇÃO |
- Há basicamente dois grandes sistemas de notificação: o Sistema de Informações de Agravos de Notificação (Sinan) e o Sistema de Controles de Exames Laboratoriais (Siscel). |
- No Sinan, são registrados casos de doentes de aids. A notificação, feita por profissionais de saúde, independe da vontade dos pacientes. Ela permite diagnósticos, fornece subsídios e contribui para a identificação da realidade epidemiológica de determinada área geográfica. |
- O Siscel, em linhas gerais, está disponível para o registro de todos os casos e acompanhamentos de portadores de HIV, não apenas os que estão doentes. É alimentado por profissionais da saúde, que podem fazer consultas pela internet. |
Dos 10 municípios brasileiros de população igual ou superior a 50 mil habitantes com maior incidência de portadores de HIV, sete são gaúchos. No país, Porto Alegre lidera o ranking dos infectados, com 111,5 casos para cada grupo de 100 mil pessoas.
Os outros seis são Canoas, São Leopoldo, Alvorada, Sapucaia do Sul, Viamão e Cruz Alta (confira lista no quadro à esquerda).Das 50 cidades com mais casos, 21 estão no Estado.
Professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o epidemiologista Jair Ferreira aponta dois pontos principais como causas a serem avaliadas. Ele destaca que o pico do consumo de drogas injetáveis no Rio Grande do Sul se deu por mais tempo do que em outros Estados, aumentando os riscos de contágio. A atividade sexual cada vez mais ativa na terceira idade, faixa etária ainda refratária ao uso de preservativos, é outra possibilidade a ser avaliadada.
Para o epidemiologista, um suposto afrouxamento nos hábitos preventivos, se de fato houve, provocaria resultados a longo prazo, o que não ocorre no Rio Grande do Sul, que apresenta taxas altas de óbito e contaminação desde meados dos anos 1990.
– Teríamos de saber se nos outros Estados as pessoas se cuidam mais, o que eu não acredito. Eu apostaria ainda no rigor que existe em toda a Região Sul na apuração da causa das mortes, aumentando a identificação dos casos de aids no Rio Grande do Sul – complementa o especialista.
Fonte: ZERO HORA (2010), também disponível em: http://www.aidshiv.com.br/
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